Artista alemão radicado no Rio faz sua primeira retrospectiva em Hamburgo

O olhar de Jan Siebert ilumina áreas mais sombrias das cidades, os habitantes da noite, os marginalizados pela sociedade, a paisagem urbana, portuária. Alemão nascido em Hamburgo em 1971, ele sempre se interessou pela América Latina. Ainda estudante, fez várias viagens pela América Central, e, de 1996 a 1999, e de 2000 a 2004, morou no México.  Mesmo sem perder contato com sua cidade natal – para onde vai ao menos uma vez ao ano, e onde é representado pela galeria do Levantehaus, localizada no centro de Hamburgo – morou em Buenos Aires, até que decidiu fixar residência no Brasil. Primeiro em Santos, de 2005 a 2008, depois São Paulo, e há três anos no Rio de Janeiro.  Com ateliê em sua casa na favela do Vidigal, seu entorno é o tema de sua produção mais recente.

Chegada ao Brasil

“Cheguei ao Brasil no começo de 2005 movido por uma grande curiosidade, pela vontade de vivenciar novas experiências e assim começar uma nova etapa de meu trabalho. Santos, cidade portuária do Estado de São Paulo,foi o local onde encontrei a identificação necessária. O centro histórico me parecia muito interessante, devido as suas ruínas arquitetônicas. Lembrava-me um pouco a cidade mexicana de Veracruz, onde vivi por alguns anos. No entanto, Santos era maior e mais instigante”, relata o artista.

Projeto artístico

“Descobrir o universo das pessoas que não vivem em ambientes seguros ou confortáveis – diferentemente daqueles que procuram este tipo de serviço só para uma aventura – foi indescritível. Além disso, ali estavam usuários de drogas e prostitutas que chegavam de diversas partes do Brasil. Assim, a dura realidade vivida por aquelas pessoas e a decadência da riqueza e elegância tornaram-se meu tema de trabalho naquele período”.

 

Ele afirma que este projeto foi um desafio “que teve um resultado inesperado”. “Minha dedicação artística em meio a esse espetáculo um tanto sombrio foi aceito pelos proprietários daqueles prostíbulos, que não apenas permitiram que eu pintasse telas dos quartos das garotas de programa como também permitiram que elas posassem para mim”, conta.

 

Em 2008, Jan Siebert  foi convidado pelo programa de residência artística da Faap, para rea­lização de um projeto de pintura no Centro da cidade de São Paulo. “Me senti sem chão, naquela região”, conta. “Massas de pessoas e mundos de concreto sem fim eram os confusos elementos da minha permanente e cansativa busca de imagens. Incrível os contrastes insuperáveis. A miséria e a decadência trocando olhares com as  diferentes formas de riqueza e luxo. A violência e a velocidade do movimento dessa cidade lembram o apetite insaciável de um monstro que já se tornou mecanismo e vítima de seu próprio vício”.

As obras que mostram lugares e cenas das favelas da Rocinha e do Vidigal

Aos poucos ele conseguiu distinguir, naquela paisagem urbana, o que desejava. “As mensagens misteriosas salvas das avalanches da cidade começaram a chamar minha atenção, e assim comecei a ler vestígios nas minhas expedições noturnas desnorteadas. As ruas abandonadas e solitárias do fluxo diário das multidões agora mostravam uma cara mais autentica e real. Os moradores desses lugares, foragidos da sociedade e fracassados, que passam um tempo limitado entre assaltos e drogas, viraram uma companhia de confiança. De boa vontade guardaram cuidadosamente meus materiais de trabalho, como telas e cavalete em suas barracas, até a noite seguinte”.

 

Os trabalhos, produzidos entre 2007 e 2013, mostram lugares e cenas das favelas da Rocinha e do Vidigal, onde o artista mora. “A escolha do cenário muitas vezes é fruto de intensas jornadas e pesquisas. Pessoas comuns podem se transformar em protagonistas da sua própria rotina, companheiros e cúmplices da criação artística. Uma prostituta retratada à noite na esquina de uma cidade é tão real quanto o pintor a retratando. Tão real como o tempo de vida que ambos compartilharam”, diz o colecionador italiano Roberto Tommasetti, que assina o texto da exposição.

 

Uma característica do trabalho do artista é pintar as obras no próprio local representado. Nesta exposição, no entanto, os retratos foram feitos a partir de um esboço prévio, no caderno do artista, feito na presença do modelo. Depois, o artista fez as pinturas sobre tela em seu ateliê. “Os interiores daqui seriam conteúdos observados e estudados no próprio local, mas planejados e concluídos no trabalho de estúdio, no interior do ateliê, sem a presença do modelo”, explica o artista.

 

“Ambas as formas de trabalhar objetivam capturar visões mais amplas da realidade, que foram intensificadas nos últimos anos. E como passei esses anos no Rio, acredito que a exposição tem como resultado também um intenso retrato de aspectos da cidade e sua gente”, ressalta Jan Siebert.

Exposições

Das exposições realizadas, destacam-se “Puntos de vista”, no Instituto Goethe, Cidade do México, em 1999; “10 artistas alemanes en méxico”, no Museu MACAY, Mérida, México, em 2000; “ZONAS”, Museu Pagu, em Santos, em 2005;  “Jan Siebert – Malerei”, Goethe-lnstitut, Hamburgo, Alemanha, em 2007; “Mit der Wirklichkeit”, Die Kunsttreppe, Abendblatt Center, Hamburgo, Alemanha, em 2008;  “Aquém do concreto”, no Museu Brasileiro de Escultura (MuBE), em São Paulo, em 2010. De 2000 a 2009 fez exposições individuais anuais na Galeria do Levantehaus, em Hamburgo, Alemanha. 

 

“Jan Siebert – 20 Years of Painting in Latin America”

México 1996 – Rio de Janeiro 2016

Artista alemão radicado no Rio faz sua primeira retrospectiva em Hamburgo

Eiskeller

Lessers Passage 4

22767 Hamburg

eiskeller.net

 

Abertura: 7 de outubro de 2016, às 18h

Visitação: 8 de outubro de 2016 a partir das 14 h

Entrada franca

Fonte: Artista

Edição e formatação: Brasileiros Sem Fronteiras

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Evento no Facebook: www.facebook.com/events/1814854088751019

Publicações recentes na TV:
E Extra Globo. 2012

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