Por Antônio Cançado de Araújo –
Sebastião Salgado é um homem de coração e em sua exposição inédita revela que está com o coração partido pela situação atual e pelo desprezo das autoridades pela preservação e proteção da Amazônia. Envenenamento de água potável pela mineração ilegal, desmatamento para comercialização de madeiras preciosas, incêndio criminoso, enfraquecimento de populações indígenas abandonadas à própria sorte em uma disputa impiedosa durante uma pandemia implacável.
Raramente na minha vida encontrei um personagem tão carismático, simples e talentoso. Há 25 anos cuidei de suas viagens para o Brasil e hoje me vi servindo Pão de Queijo, essa delícia gastronômica mineira e o açaí, essa fruta majestosa da Amazônia que procuramos proteger da estupidez humana que persiste em queimar as árvores em vez de coletar e consumir os frutos. “O Homem dos Dois Milhões de Árvores” plantou uma floresta e replantou uma fazenda que herdou completamente desmatada com sua esposa Lélia Warnick no estado de Minas Gerais.
Como Salgado, meu coração está cheio das “feridas” do governo da tolice, do reino da mentira, do jargão, dos interesses sórdidos, do desprezo pelos outros, da falta de empatia, da educação, da cultura, respeito e ética. Recentemente fui acusado de “esquerdopata” por alguém que eu considerava amigo na época.
Ouvi comentários sobre Marielle Franco, eleita do Rio de Janeiro, assassinada em seu carro por 9 balas à queima-roupa, que dizia ser isso o que merecia uma ativista LGTB.
Nossos índios, cujas terras estão queimadas e os rios envenenados com mercúrio, não têm água potável e remédios para curar doenças trazidas pelo homem “civilizado”.
Quo usque tandem abutere, Catilina, patientia nostra? Até quando seremos obrigados a suportar tantas injustiças, crimes contra a humanidade, mentiras inaceitáveis que destroem o que resto da humanidade no seio do planeta terra? Devem as epidemias, distúrbios climáticos, poluição, seca, inundações ou guerras exterminar a vida humana para que a Terra continue a girar pacificamente?
Obrigado, Salgado, por utilizar o seu talento, a sua poesia e a sua notoriedade para expor os crimes absurdos praticados com impunidade que ferem os interesses das gerações futuras, da flora, dos animais, dos índios e de qualquer pessoa de bom senso. As feridas cicatrizam com o tempo, mas também podem levar à morte, então ainda podemos ter tempo para fazer a escolha mais sábia.